O "pó" do título é a cocaína mesmo. A pena é a legítima, de ave, leve e esvoaçante....
E esse título vem a propósito de artigo do jurista Walter Mayerovitch publicado originalmente na "Carta Capital" e que transcrevemos com os devidos créditos, do "Tijolaço" do Fernando Brito...
Com a autoridade de quem já foi, no governo Fernando Henrique
Cardoso, chefe da Secretaria Nacional Antidrogas, o desembargador
aposentado Wálter Maierovitch publica hoje em Carta Capital, artigo
onde descreve as peripécias aeronáuticas do megatraficante colombiano
Pablo Escobar para transportar droga e, em seguida, estranha a pressa da
Polícia Federal em investigar e inocentar de plano a família Perrella e
o silêncio sobre, então, quem seriam os responsáveis por meia tonelada
de cocaína num helicóptero.
Assim como o desparecimento, no caso, do Ministério Público, sempre tão ativo nos casos de repercussão na mídia.
De Escobar aos Perella
Wálter Maierovitch
Em 2 de dezembro, uma romaria de colombianos visitou, em razão do
20º aniversário de sua morte, o túmulo de Pablo Emilio Escobar Gaviria
no cemitério dos Jardines Monte Sacro. Nascido em 1949, Escobar era
carinhosamente chamado pelos colombianos pobres de “El Patrón”, e isso
por ter, com o tráfico de cocaína operado pelo seu Cartel de Medellín,
aberto 3 milhões de postos de trabalho, diretos e indiretos.
Fora isso, Escobar, considerado o maior traficante de cocaína
andina de todos os tempos, realizou intensa e interesseira atividade
assistencial aos carentes. Inspirado na lógica dopanem et circenses,
ganhou fama de mecenas ao comprar passes de jogadores de futebol, como
bem sabem os torcedores do Independiente de Medellín e do Atlético
Nacional. Assim, provocava os traficantes rivais, Rodríguez Gacha,
padrinho do Millonarios de Bogotá, e os irmãos Rodríguez Orejuela, donos
do América de Cali. A propósito, todos eles inflacionavam o mercado da
bola e dele se aproveitavam para lavar seus narcodólares.
Além de construir um presídio de luxo para uso próprio e fingir
que cumpria pena reclusiva, quando sua meta era evitar a extradição para
os EUA, o megatraficante Pablo Escobar montou um gigantesco e moderno
centro de refino da pasta-base de coca peruana: refinava 5 mil quilos
semanais da droga, como diz Luis Cañón na clássica obra: El Patrón, Vida
y Muerte de Pablo Escobar.
Para os colombianos, a refinaria ficava em um lugar apelidado de
Tranquilândia, pois a corrupta polícia não incomodava El Patrón. Quanto
ao presídio luxuoso e de onde entrava e saía sem problemas, ganhou o
significativo designativo de La Catedral, ou seja, o templo de Escobar.
Com as atividades ilegais de Escobar, a Colômbia, que até então pouco
contava no tráfico internacional, tomou em importância o lugar do Peru.
A marcante “jogada” de Escobar consistiu em comprar uma empresa
de aviação civil, a ‘Servicios Aeroejecutivo de Aviación’, logo
apelidada de “El Expreso de la Cocaína”. Sem nenhum helicóptero e com
cerca de duas dezenas de pequenos aviões tipos Cessna e Turbo Commander,
a empresa não só fazia o transporte da pasta-base do Peru, mas era
eficaz, com reabastecimento nas Bahamas, no envio da cocaína em pó para
os EUA, com desembarque da droga na Flórida.
Com os desmontes dos megacartéis de Medellín e Cali, a morte de Escobar, as prisões dos irmãos Orejuela e as delações premiadas nos EUA dos irmãos Ochoa, a indústria da cocaína andina sofreu mudanças. No mundo da droga, nenhum grande traficante internacional possui mais uma empresa aérea. Eles preferem terceirizar o transporte e fretar helicópteros, a exemplo do que fazem com as “mulas” humanas. No fundo, mudanças geoestratégicas, com uso maior do sistema bancário e financeiro internacional e a transformar Estados nacionais em narcodependentes, ou melhor, com o PIB a depender também do mercado das drogas proibidas.
Na Colômbia, os traficantes de cocaína andina trocaram os
megacartéis pelos “cartelitos”, com estruturas enxutas, ágeis e atuação
em rede planetária. Com a terceirização do transporte, as polícias
encontram dificuldades na identificação dos mandantes e na prova de se
ter agido com dolo no fretamento. Os donos dos helicópteros e aviões,
por exemplo, repetem não saber de nada. Como regra, o piloto flagrado no
transporte é poupado pelos patrões e, dessa maneira, abre-se espaço
para declarar desconhecimento da mercadoria do fretamento.
O helicóptero da empresa familiar dos Perrella, pai senador e
ex-presidente do Cruzeiro, e o rebento deputado estadual em Minas
Gerais, transportava quase meia tonelada de cocaína. Pelo noticiado, até
verba pública já serviu para abastecer esse helicóptero. A carga ilegal
de cocaína restou apreendida em 24 de novembro passado, após
aterrissagem do helicóptero no Espírito Santo, proveniente do Paraguai.
Nesta semana, vazou a informação de as investigações policiais, em
inquérito, terem concluído pela não responsabilização criminal dos dois
Perrella parlamentares. A propósito, ainda não se sabe qual será a
reação do representante do Ministério Público sobre essa apuração a
envolver Zezé e Gustavo Perrella.
No caso, está claro ter a polícia trabalhado com mais velocidade
na apuração de eventual participação criminosa dos Perrella do que na
identificação do traficante, ainda um desconhecido. Pelo que se imagina,
a cocaína apreendida seria vendida no Brasil.
Num pano rápido, pelo
menos a “culpa in vigilando” prevalece. Além do odor de cocaína nos
Perrella.