Eduardo Guimarães, no seu "Cidadania" publicou:
Miruna Genoino: “Peço que a sociedade se informe sobre meu pai”
No começo da tarde de domingo, fui procurado por amigos da família de
José Genoino. Pediram-me ajuda para divulgar um drama humanitário que
vai se formando por ação da prisão intempestiva dos réus do julgamento
do mensalão.
A família do ex-presidente do PT teme por sua vida e, conforme matéria do jornalista Paulo Henrique Amorim em seu blog, um laudo médico apoia tal temor.
De posse dos telefones de Rioko e Miruna – respectivamente, esposa e
filha de Genoino – escolho a filha, julgando que estaria, talvez, menos
abalada do que a mãe. Ledo engano. Estava muito abalada, mas, assim
mesmo, falou sobre a saúde do pai e mandou um recado à sociedade.
Miruna conversou comigo aos prantos, arrastando-me para o seu estado
de espírito, o que me fez terminar a entrevista igualmente abalado. Mas
falou muito bem. A professora paulista de 32 anos é uma moça de mente
ágil e, apesar da emoção, conseguiu exprimir com clareza do que seu pai,
sua família e seus amigos mais precisam neste momento.
Segue, abaixo, a transcrição da entrevista com Miruna Genoino.
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Blog da Cidadania – A imprensa está repercutindo
o estado de saúde do seu pai, de que seria delicado e ele não estaria
sendo mantido em boas condições, o que poderia gerar risco para a saúde
dele. O que você pode dizer sobre isso?
Miruna Genoino – No dia 24 de julho, meu pai
contraiu a doença mais grave da cardiologia, uma dissecção da aorta, e
teve que sofrer uma cirurgia de 8 horas, da qual tinha 10% de chance de
sobreviver, mas ele sobreviveu porque é um guerreiro. Em seguida, porém,
ele sofreu um micro AVC.
Meu pai está tomando cinco medicamentos diferentes em dois horários
do dia. Até então, ele não tinha entrado em nenhum avião. O voo o fez
passar mal, talvez a pressão da cabine. A médica que o acompanha nos
informou que alguém que passou por tudo isso não poderia estar sendo
submetido a tal pressão. Meu pai deveria ser hospitalizado.
Ele viajou ontem de manhã a Brasília e às duas horas da manhã deste domingo ainda não estava acomodado.
Estamos com uma grande preocupação com a saúde dele; é a nossa maior
preocupação, agora. A nossa luta é para provar a inocência do meu pai,
mas, neste momento, a grande preocupação é com a saúde dele.
Blog da Cidadania – Como está o emocional da sua família?
Miruna Genoino – A gente está num momento muito,
muito difícil. O meu pai, antes de sair de casa para ser preso, nos
disse que já tinha ficado confinado muito tempo em cela forte [durante a
ditadura] e que estava preparado para isso.
Ele tem dois netos, os meus filhos, e eles estão muito assustados…
Blog da Cidadania – As crianças estão com vocês aí em Brasília?
Miruna Genoino – Eles ficaram em São Paulo.
Mas ele ter sido transferido para Brasília ainda nos causa um
transtorno emocional ainda maior, porque a gente tem que ficar longe das
crianças…
[Miruna chora]
É muito complicado o nosso estado emocional…
Blog da Cidadania – Miruna, você está abalada
com tudo isso e, assim, não gostaria de prolongar esta entrevista. Mas
como sabemos que você, com suas declarações, está ajudando a que as
pessoas entendam que há seres humanos por trás de toda essa história,
concluo perguntando o que a família de José Genoino tem a dizer à
sociedade.
Miruna Genoino – Pedimos que a sociedade se informe.
Qualquer pessoa que se informar de verdade, que não assumir o discurso
da Rede Globo, do jornal Folha de São Paulo, da revista Veja, de todos
os grandes meios, ela vai saber que a única coisa que meu pai fez nesta
vida foi colocar acima de tudo o ideal dele por justiça social…
[Miruna volta a chorar]
Ele saiu do sertão do Ceará para tentar melhorar a vida das pessoas. E
a vida inteira ele se sacrificou em todos os sentidos porque essa
sempre foi a única luta dele. Então, se as pessoas se informarem todo
mundo vai saber o homem que ele é…
[Chora de novo]
Eu só peço isso….
[O pranto aumenta]
Que não assumam… O discurso… Dessa mídia… Que procurem saber a verdade, ouvir o outro lado, o que meu pai tem a dizer…
(…)
—–
Percebi, nesse ponto da conversa, que só me cabia deixar a família
com sua dor e, em vez de continuar chorando do lado de cá enquanto essa
menina da idade da minha filha maior chorava do lado de lá, vir escrever
o clamor emocionado dessa família, que pode perder aquele que tanto
ama.
Concluo, pois, exortando as autoridades judiciárias a que respeitem o
direito, apenas o direito de Genoino. Não pedimos, os parentes, amigos e
até os admiradores dele que tenha regalias que ultrapassem os limites
da lei, mas que não seja retaliado. Ele tem direito de receber cuidados
médicos como qualquer cidadão privado de liberdade.
Genoino deveria estar num hospital. Levem-no para lá. Quem lhe nega
esse direito a um tratamento digno responderá pelo que vier a lhe
acontecer. Essa é a promessa de muitos que não se deixaram enganar pelos
inimigos dele e que estarão muito atentos a cada minuto da vida desse
homem, a partir de agora.