Um dos aspectos mais distintivos das relações políticas atuais no Brasil está no chamado "governo de coalizão". Por memória recente temos a queda por impeachment de Fernando Affonso Collor de Mello que eleito por uma legenda dessas minúsculas - o hoje extinto PRN - acabou por não ter sustentação parlamentar e enfrentar os humores de um Congresso hostil.
Mas, o fato não é novo e no site do Jornal GGN - Luís Nassif Online há uma boa análise do tema assinada por Diogo Costa, sob o título original de "As alianças e a correlação de forças no governo de Getúlio"
O texto vale ser lido e preferíamos denominá-lo
Quem disse que governo de coalizão funciona???
Por Diogo Costa
HOJE COMO ONTEM - Em 1950 o povo
brasileiro se pronunciou mais uma vez, nas urnas. Getúlio Vargas (PTB)
venceu o pleito com 48,7% dos votos (não havia segundo turno). Em
segundo lugar ficou o Brigadeiro Eduardo Gomes, da UDN, com 29,6% e, em
terceiro lugar, ficou Cristiano Machado, do PSD, com 21,4%.
Para a Câmara dos Deputados a vida de Getúlio (que naturalmente não seria fácil) ficou deveras delicada.
O PSD elegeu 112 deputados federais, a
UDN conseguiu eleger 81 deputados federais e o PTB fez uma bancada de
apenas 51 deputados federais. No Senado o quadro era até pior do que
este.
Nos quase quatro anos em que chefiou o
Estado Brasileiro (até o suicídio), Getúlio Vargas teve que compor com
setores de centro-direita, inclusive ofertando vários ministérios para
pessoas ligadas ou que tiveram ligações com o PSD e até com a UDN, em
detrimento do seu PTB.
Isso era motivo de intensas críticas
advindas da esquerda e, em especial, dos próprios militantes do PTB, que
reclamavam da aproximação de Vargas com os setores retrógrados da
sociedade e da pouca representatividade do PTB no Ministério.
João Goulart era Ministro do Trabalho
de Getúlio Vargas e foi obrigado a sair, em fevereiro de 1954, em função
da crise política havida sobre a questão do aumento do salário mínimo. E
olha que naquela altura João Goulart já era Presidente Nacional do
PTB!
Ou seja, política não é para principistas e dogmáticos de toda ordem.
Getúlio Vargas passou quase quatro
anos apanhando de tudo quanto é jeito, a demissão de João Goulart do
Ministério do Trabalho causou grande revolta entre a classe trabalhadora
e outras decisões polêmicas do então Presidente, também.
O que predomina nas relações políticas
é a correlação de forças, é impossível compreender a política sem
analisar este aspecto. Getúlio não fazia concessões aos conservadores
porque queria, mas porque naquela altura dos acontecimentos ele não
tinha outras alternativas, dada a debilidade de seu próprio partido, o
PTB.
Mesmo com a criação da Petrobrás, em
outubro de 1953, Vargas não escapou da ira da direita (perfeitamente
justificável) e da pretensa esquerda, que chegava ao cúmulo de
alcunhá-lo de traidor da pátria e de lacaio dos EUA! Chamavam ao seu
governo de 'um governo de traição nacional'!
E a correlação de forças, onde aparece
nas análises dos que malham hoje o PT, herdeiros que são daqueles que
ontem malhavam Getúlio Vargas e o antigo PTB?