Mauro Santayana, seguramente um dos melhores analistas da vida nacional, publica no "Jornal do Brasil" na Internet uma análise em que questiona os critérios de justiça e o júbilo dos oposicionistas e antipetistas diante da prisão dos condenados da AP 470 que, curiosamente, até as 125 horas desta quarta feira, só o foram por terem ligações com o PT, já que continuam soltos vários outros dos condenados...
Coisas da Política
O júbilo e a hipocrisia
O ministro Joaquim Barbosa escolheu a data de 15 de novembro,
Proclamação da República, para ordenar a prisão e a transferência para
Brasília, em pleno feriado, e sem carta de sentença, de parte dos réus
condenados pela Ação-470.
O simples fato de saber que os “mensaleiros” — como foram
batizados pela grande mídia — viajaram algemados e em silêncio; que estão
presos em regime fechado, tomando banho com água gelada, e comendo de marmita, encheu
de regozijo parte das redes sociais.
É notável o ensandecido júbilo, principalmente nos sites e
portais frequentados por certa minoria que se intitula genericamente de “classe
média”, e se abriga nas colunas de comentários da mídia mais conservadora.
Parte da população, a menos informada, é levada a comemorar a
prisão do grupo detido neste fim de semana como se tratasse de uma verdadeira Queda
da Bastilha, com a ida de “políticos” “corruptos” para a cadeia.
Outros, menos ingênuos e mais solertes, saboreiam seu ódio e tripudiam sobre cidadãos condenados
sob as sombras do “domínio do fato”, quando sabem muito bem que dezenas, centenas de corruptos de outros
matizes políticos — alguns comprovadamente envolvidos com crimes cometidos anos
antes desse processo — continuam soltos, sem nenhuma perspectiva de julgamento.
Esses, para enganar os incautos, já anteveem a queda da
democracia. Propõem a formação de grupos de “caça aos corruptos”, desde que
esses tenham alguma ligação com o
governo. Sugerem que cidadãos se armem. Apelam para intervenções golpistas. Torcem
para que os presos de ontem, que estejam doentes morram, ou que sejam agredidos
por outros presos.
Ora, não existe justiça sem isonomia. Já que não se pode
exigir equilíbrio e isenção de quem vive de manipular a opinião pública,
espera-se que a própria população se manifeste, para que, na pior das
hipóteses, o furor condenatório e punitivo de certos juízes caia, com a
sutileza de um raio lançado por Zeus, sobre a cabeça de outros pecadores.
Há casos dez, vinte vezes maiores, que precisam ser
investigados e julgados. Escândalos que envolvem inclusive a justiça de outros
países, milionários e recentes ou que se arrastam desde a época da aprovação do
instituto da reeleição — sempre ao abrigo de gavetas amigas, ou sucessivas manobras
e protelações, destinadas a distorcer o tempo e a razão, como se estivéssemos
em órbita de um buraco negro.
Seria bom, no entanto, que tudo isso se fizesse garantindo o
mais amplo direito de defesa, no exclusivo interesse da Justiça. Ou a justiça
se faz de forma equânime, desinteressada, equilibrada, justa, digna e contida,
ou não pode ser chamada de Justiça.