Folha tenta explicar fraude e se desmoraliza ainda mais
Por Eduardo Guimarães - Blog Cidadania
No post anterior,
relatei fraude grosseira do jornal Folha de São Paulo em matéria que
pretendeu vender ao seu leitorado – composto pela fina flor de um
antipetismo de classe alta que hoje se vê atucanado por falta de opções
mais à direita – que o governo Dilma estaria entregando unidades
residenciais do Programa Minha Casa, Minha Vida, sem água e luz.
A reportagem em questão pertence àquela categoria do jornalismo
corporativo terceiro-mundista que, na eleição de 2010, tentou
transformar uma bolinha de papel do tamanho de uma bolinha de
pingue-pongue – atirada contra o então candidato José Serra em um
comício – em um artefato de “um quilo” (segundo invenção do Jornal
Nacional, formulada para ajudar o candidato do PSDB, que já caminhava
para a derrota).
Exacerbar ou inventar fatos negativos contra o grupo político que
comanda o país tornou-se uma verdadeira obsessão para a grande mídia.
Com redações cheias de jornalistas recém-formados que praticamente
trucidam uns aos outros na ânsia de acariciarem o antipetismo dos
patrões, produzem-se micos como a reportagem da Folha supracitada.
A “denúncia”, publicada em destaque no alto da primeira página do
jornal no último dia 16, é confusa. A matéria que a veiculou fez
malabarismos para impedir o leitor de entender por que haveria gente
vivendo sem água e luz em imóveis recém-entregues pelo governo federal.
Assim, em uma matéria de 427 palavras, apenas 30 foram dedicadas ao que
diz o título.
Eis o trecho da matéria que tenta “explicar” o título que acusa Dilma de “entregar casas sem água e luz”.
“(…) Beneficiários passam as noites a luz de velas, usam
baldes com água trazida de outros locais e contam com ajuda de vizinhos
que já têm água ou energia em casa (…)”.
O resto do texto contém depoimentos de meia dúzia de pessoas que
viviam em barracos e que foram contempladas com casas novinhas, bem
construídas e que os novos moradores poderão mobiliar e equipar com
eletrodomésticos no âmbito do Minha Casa, Minha vida.
Contudo, alguns dos entrevistados criticaram a matéria da Folha, que
teria distorcido suas palavras e transformado seus elogios ao programa
em críticas.
Um blog baiano, de um morador da cidade de Vitória da Conquista (BA),
onde o governo federal estaria entregando “casas sem água e luz”,
noticiou que uma das pessoas entrevistadas pela Folha pretende processar
o jornal por distorcer suas palavras sobre o Minha Casa, Minha Vida –
que essa pessoa diz que elogiou – e por usar sua imagem sem autorização.
A matéria foi tão escandalosa, a fraude que a Folha praticou foi tão
grosseira que, apesar de se negar a reconhecer a natureza desonesta do
que publicou, sua ombudsman, Suzana Singer, teve que voltar à questão do
antipetismo do jornal em que trabalha.
Os três primeiros parágrafos da crítica de Suzana são mais do que
suficientes para explicar a fraude que o dito “maior jornal do país”
levou para o alto de sua primeira página:
—–
“A Folha acusou a presidente Dilma de entregar casas sem água
nem luz no interior da Bahia. O jornal mostrou, na quarta-feira, que
parte das moradias inauguradas em Vitória da Conquista, no programa
Minha Casa Minha Vida, estavam no escuro e a seco. Os moradores usavam
velas à noite e enchiam baldes nas casas dos vizinhos.
Bastava ler o “outro lado” para concluir que a acusação não
fazia sentido. O Ministério das Cidades explicou que as casas foram
entregues com instalações elétricas e hidráulicas e que cabia ao
beneficiário do programa pedir a ligação dos serviços às empresas de
distribuição do Estado.
Acontece o mesmo com quem compra um imóvel sem ajuda federal:
é a pessoa que, depois de receber as chaves, aciona o fornecimento de
água, luz, gás, telefone (…)”.
—–
Parece brincadeira, mas não é. Se você for um milionário e comprar
uma cobertura recém-construída nos Jardins paulistanos, por exemplo,
terá que esperar tanto quanto os pobretões do conjunto habitacional de
Vitória da Conquista, na Bahia, para ter água, luz e telefone ligados.
A matéria é tão grosseiramente falsa que desmonta a si mesma. A ombudsman da Folha diz exatamente isso, mas com outras palavras:
—–
“(…) Os casos relatados indicavam que nem havia um problema
exagerado de demora na entrega desses serviços. Apenas uma dona de casa
esperava a instalação de luz havia oito dias, três a mais que o prazo
dado pela companhia elétrica (…)”
—–
Apesar do que diz a ombudsman, colunistas e blogueiros ligados à
grande mídia e ao PSDB, tais como Reinaldo Azevedo, da Veja, e Josias de
Souza, da Folha/UOL, entre dezenas de outros, tentaram reforçar a
insinuação de que Dilma estaria entregando casas sem ligações de água e
luz que pudessem ser acionadas como em qualquer outro imóvel novo.
Não seria necessário o governo rebater a matéria se a Redação da
Folha tivesse jornalistas em lugar de bajuladores que se matam entre si
para agradar o patrão. O filtro jornalístico, se existisse nesse jornal,
deveria ter “derrubado” a matéria, como diz a ombudsman:
—–
“(…) Diante das explicações dadas pelo governo e pelas
concessionárias de serviços estaduais, o jornal deveria ter derrubado a
reportagem. Não adianta registrar burocraticamente o ‘outro lado’, como
prega o ‘Manual da Redação’, mas insistir numa acusação vazia (…)”.
—–
Você que vive acusando blogueiros como este que escreve de serem
“pagos pelo governo”, note que Suzana Singer, ex-secretária de Redação
da Folha, responsável por muitas matérias contra o PT na década passada,
reproduz o diagnóstico desta e de outras páginas sobre matéria que a
mesma Folha insiste em manter: tratou-se de uma “acusação vazia”.
Sim, você leu bem: a Folha insiste em manter a acusação a Dilma.
Cobrada pela ombudsman, a Redação do jornal oferece uma explicação
estarrecedora e que, além de má fé, exala burrice. Veja a explicação da
Folha, que Suzana relata:
—–
“(…) A Redação não concorda: ‘a informação de que as casas
foram entregues sem água nem luz é relevante por mostrar a pressa com
que o governo tem organizado essas inaugurações, por motivos obviamente
eleitorais. O objetivo da reportagem era mostrar isso e não culpar a
presidente pela falta de água e luz’, diz a editoria Poder (…)”.
—–
Dissequemos, pois, essa “explicação”.
1 – Onde está a “pressa” do governo em inaugurar um dos muitos
conjuntos habitacionais do Minha Casa, Minha Vida que terá para entregar
até o ano que vem se a água e a luz de QUALQUER imóvel têm que ser
ligadas em nome do morador desse imóvel?
2 – Por que o governo entregaria imóveis novos a pessoas paupérrimas
ligando antes a água e a luz, gerando contas para os novos moradores
pagarem assim que entrassem? Eles teriam que pagar pelo que não
consumiram, ora.
3 – Por que Dilma teria “pressa” de inaugurar qualquer coisa se
estamos a um ano da eleição de 2014 e há uma imensidão de obras –
inclusive do Minha Casa, Minha Vida – para inaugurar?
Ao fim, para aqueles que têm cérebro – e honestidade nesse cérebro – a
fraude jornalística da Folha mostrou que o programa Minha Casa, Minha
Vida é muito bom, pois tudo o que encontraram para criticar nele foi o
que jamais poderia ser criticado porque existe em qualquer imóvel que
alguém compre ou alugue.