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sábado, 5 de outubro de 2013

Os brioches brazucas...

Registra a lenda - a história não confirma, mas o fato aparentemente aconteceu - que a rainha Maria Antonieta, mulher do Rei Luís XVI de França, teria indagado a um áulico sobre os pobres que reclamavam por Paris não ter pão, às vésperas da Revolução Francesa em 1789, "porque eles não comem brioches?"...

A frase mostra a alienação da nobreza francesa naquela época e parece hoje estar encontrando eco na elite brasileira com suas demonstrações constante de desperdício, pouco caso com a desigualdade social e um afã incontrolável de extravagâncias. 

Essa mesma turma retratada na matéria, é a que vai às ruas vaiar médico cubano e protestar contra o governmo federal, com certeza...

O "The New York Times", que não é nenhum jornal petista ou comunista, publicou matéria que a Folha de S. Paulo de hoje reproduz e nós transcrevemos aqui com a menção acima:


Brasileiros gastam dinheiro em festas em Nova York


DO "NEW YORK TIMES"

Para celebrar o aniversário de 3 anos de Arthur Medeiros no ano passado, houve um brunch de três pratos para uma dúzia de convidados na sala de jantar privada do Hotel Plaza Athénée, que foi decorada profissionalmente para parecer um cenário do filme "O Rei Leão", até mesmo com peças elaboradas com o tema da selva. Depois disso, uma outra festa no Dylan's Candy Bar, e então o clímax: ver "O Rei Leão" na Broadway. 

Arthur não é de Manhattan, mas do Brasil. Para planejar as extravagâncias do aniversário, a mãe de Arthur, Heloisa Medeiros, contratou Clarissa Rezende, fundadora da Ideas to Bloom, uma empresa de eventos de São Paulo, por US$ 15 mil, e pagou a passagem dela a Nova York e uma estadia de uma semana no Waldorf-Astoria. 

Não seria demais dizer que o preço total da festa de aniversário foi de US$ 30 mil. 


Mauricio Lima/The New York Times
Clarissa Rezende e seu marido, João Coelho, que têm uma empresa que organiza festas para brasileiros em Nova York
Clarissa Rezende e seu marido, João Coelho, que têm uma empresa que organiza festas para brasileiros em Nova York


De acordo com os organizadores, festas extravagantes como essa são o exemplo mais recente dos gastos dos brasileiros em Nova York, que inclui compras em lojas e farras imobiliárias. 

"Eu nunca vi gastos nessa escala e estou nesse ramo há 25 anos", diz Sebastian Wurst, gerente do Plaza Athénée. Wurst afirma que o hotel está alugando mais suítes para brasileiros (que representam 11% dos hóspedes, segundo ele) em festas de Ano Novo e para o Super Bowl. Ele acrescenta que muitos de seus funcionários estão aprendendo português, para lidar com essa nova base de clientes. 

Em 2012, os turistas brasileiros gastaram US$ 2,4 bilhões em compras e entretenimento em Nova York, tornando-se o grupo estrangeiro que mais gasta nas viagens à cidade, segundo o site de turismo "NYC & Co". 

"O que está acontecendo no mercado de luxo no Brasil é que eles querem ostentar e mostrar mais do que normalmente se faz", diz Rezende, 33, que diz ter organizado sete festas no último ano para clientes brasileiros em Nova York. Elas está construindo um site focado apenas em organização de eventos fora do país. 

"Cerca de metade dos nossos clientes querem vir a Nova York para organizar uma festa. É um mercado que está crescendo muito rápido e nós nem sabíamos que existia", disse Rezende por telefone, direto de Orlando, na Flórida, onde ela estava planejando uma festa com tema do Homem-Aranha para o quarto aniversário de Arthur. 


The New York Times
Mesa de uma festa para clientes brasileiros em Nova York, em foto sem data
Mesa de uma festa para clientes brasileiros em Nova York, em foto sem data

Até mesmo numa cidade como Nova York, famosa por seus excessos, alguns desses eventos podem parecer exagerados. Em setembro de 2012, de acordo com um dos organizadores, o casal Yára Cavalcante e Phelipe Matias, de Brasília, fizeram uma festa de casamento de US$ 2 milhões, para mais de 400 pessoas, no Oheka Castle, um imóvel no estilo de "O Grande Gatsby", em Huntington, Nova York. O evento tinha uma parede de orquídeas, um bar feito totalmente de gelo e um DJ vindo de Ibiza, na Espanha. 

"Dar uma festa de casamento de primeira linha no Brasil pode custar facilmente US$ 1 milhão, se você tiver 600 ou 700 convidados. Então, estamos vendo as pessoas procurarem outros lugares, como Nova York", comenta Eduardo Gaz, fundador da agência de viagens Selections, de São Paulo.

Georgiana Alves de Souza, 37, uma designer gráfica do Rio, esperava celebrar seu casamento no River Cafe, no Brooklyn, no ano passado. "É mais barato para a gente vir a Nova York por um final de semana do que passar uma semana toda no Norte do Brasil", disse. 

Embora ela tenha tido que mudar a festa para o Lumi, um restaurante na zona leste de Nova York, por causa do furacão Sandy, ela afirma não ter se arrependido da experiência. "Eu teria pago US$ 25 mil no River Cafe por toda a festa e mais a banda, enquanto uma festa na casa da minha mãe, no Rio, com um DJ, teria o mesmo preço. Mas a qualidade em Nova York é muito maior." 

O casamento em lugares diferentes, longe do lar dos noivos, é cada vez mais popular entre os brasileiros jovens e emergentes. É também uma maneira para os casais não terem de convidar centenas de pessoas e para que fujam da cultura intensamente competitiva do casamento em seu país natal. "Você tem que brigar por uma vaga nas igrejas daqui", disse Alves de Souza. (Será que ela não assiste ao reality show "Bridezillas"?) 

Isabela Frugiere, 30, uma designer de São Paulo que trabalha para a marca de praia Tryia, se casou com Phelipe Hamoui no terraço do Gramercy Park Hotel em setembro. "Nós queríamos uma festa de casamento íntima", disse. 60 convidados (incluindo Hamish Bowles, editor internacional da "Vogue") não é um número que ela teria conseguido bancar no Brasil. A celebração de uma semana incluiu festas e jantares no La Esquina, no Indochine e no bar em cima do telhado Le Bain, no Standard. (O mantra brasileiro de festas: por que ter uma celebração se você pode ter três ou quatro?) 

Ainda é uma fração muito pequena de brasileiros que tem recursos, tempo livre e desejo de fazer uma festa, ou várias, em outro país. 

"Por que você sairia do Brasil rumo a Nova York só para se casar?", questiona a nordestina María Cecilia Campos, 22, recém-formada na New York University. "É um circo. Eu conheço uma pessoa que alugou um apartamento apenas para guardar as coisas que eles compraram para o casamento dela aqui. É só uma questão de exclusividade, só para dizer 'me casei em Nova York.'"