Esta entrevista da ministra Tereza Campello fala por si:
Ministra do Desenvolvimento Social diz que Bolsa Família mudou o Brasil e derrubou mitos, mas preconceito ainda ronda principal programa social do governo petista
Integrante do grupo de trabalho montado para desenhar um
programa de transferência de renda para o então presidente eleito Luiz
Inácio Lula da Silva, a hoje ministra do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome, Tereza Campello, fala com orgulho sobre os resultados de
dez anos da implantação do Bolsa Família. O sucesso, diz ela, decorre
do “desenho simples” e do foco na proteção de camadas mais pobres da
sociedade. Sem disfarçar a irritação com críticas ao programa - que ela
atribui em grande parte ao preconceito -, a ministra minimiza problemas
na fiscalização e falhas no cadastro, que hoje reúne informações de mais
de 50 milhões de pessoas em todo o país.
Infográfico: 10 anos do Bolsa Família em números
“A gente olha para trás e tem a certeza de que o Bolsa
Família ajudou a mudar o Brasil”, diz a ministra, ao discorrer sobre
indicadores de evasão escolar e mortalidade infantil. “O Bolsa Família
virou esse sucesso todo não só pelo benefício que ele traz à população,
mas porque ele conseguiu escala e abrangência. E ele só conseguiu isso
porque tem um desenho simples”, acrescenta.
A ministra reconhece que o governo ainda se vê diante do
desafio de incluir no programa entre 500 mil e 600 mil famílias que hoje
não têm acesso ao benefício, seja por obstáculos geográficos ou por
desinformação. “O Brasil hoje é referência em políticas sociais, em
tecnologias sociais, é considerado um país moderno e que enfrenta seus
desafios. Isso quer dizer que a gente acabou com as desigualdades? Não.
Quer dizer que a gente assume as desigualdades e está correndo atrás
para diminui-las. Algumas delas você só vai diminuir com o tempo. São
desigualdades históricas. Você não conserta 500 anos em 10 anos”,
argumenta.
Sobre casos de fraude e uso irregular do Bolsa Família,
Tereza Campello nega que o governo enfrente problemas para fiscalizar
adequadamente a aplicação do dinheiro. Ao comentar casos revelados pelo
iG
na última semana - como o de uma vencedora da Mega-Sena que continuou recebendo o benefício
e a suspensão dos pagamentos feitos a mais de 2 mil políticos eleitos
em 2012 -, a ministra diz que o governo mantém hoje uma complexa
estrutura de controle do programa. Faz cruzamentos regulares com outras
bases de dados e apresenta um índice de irregularidade que, segundo ela,
é inferior ao de outros projetos governamentais.
Leia mais sobre os 10 anos do Bolsa Família:
“Já é bastante mínimo (o índice de irregularidades). É
difícil encontrar outra ação de governo que tenha, proporcionalmente, um
número menor de desvios e irregularidades do que o Bolsa Família.
Agora, imagine quantos beneficiários do Bolsa Família ganharam na
Mega-Sena?”
Ela afirma que o cadastro do programa hoje é “muito bem
focalizado”. “Agora, são 50 milhões de pessoas. E cada vez que acham um
erro é fraude no Bolsa Família”, queixa-se a ministra. “Acho que é por
puro preconceito.”
Mitos
Mesmo reconhecendo a existência de alguns obstáculos para
ampliar a abrangência do Bolsa Família, Tereza Campello avalia que que
os resultados obtidos nesses dez anos derrubaram todos os mitos que
cercaram o programa em sua origem. A ministra, que era assessora
especial de Lula na época em que o programa começou a ser desenhado,
lista como exemplo a tese de que os beneficiários teriam mais filhos,
gastariam mal o dinheiro, se acomodariam em não trabalhar ou ficariam
intencionalmente na informalidade.
Para a ministra, o programa também ajudou a transformar o
Brasil em referência internacional na área social. Fez com o país se
tornasse um exportador de tecnologia para gerenciar iniciativas de
transferência de renda e melhorou a imagem brasileira como um todo no
exterior.
Ainda assim, ela é enfática ao se queixar de números
divulgados por organismos estrangeiros sobre a miséria no Brasil. Ela
rechaça, por exemplo, dado da FAO, órgão da ONU para alimentação e
agricultura, segundo o qual quase 14 milhões de pessoas ainda passam
fome no país. Os dados, afirma a ministra, estão incorretos e
desatualizados.
“É um absurdo organismos das Nações Unidas não usarem
nossas fontes. Até poderiam não usar, se não fossem fontes reconhecidas.
Mas são. Então, nós reivindicamos que os dados do Brasil sejam dados
corretos.”