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domingo, 1 de setembro de 2013

Uma farsa insistente...

Hoje, no dominical e tradicional almoço em família, ouvi história que me deixou preocupado... Uma pessoa da família que nestes dias procurou atendimento médico em Três Corações, cidade próxima à nossa onde não há atendimento de maior complexidade, ouviu do médico que a atendia uma cantilena de doutrinação contra os "médicos escravos de Cuba" - a batida tese já difundida por todo o país - agora somada a outros ingredientes mais sérios: "os médicos cubanos receberiam apenas uma pequena parte do dinheiro e que o governo brasileiro junto com a ditadura cubana vai desviar a maior parte dos ganhos dos médicos para a reeleição da Presidente Dilma...".

Confiante na simplicidade dos pacientes mais idosos que recebem, esse "médicos-doutrinadores" estão seguindo cartilha que nos parece ter a impressão digital do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais, um dos primeiro a criminalizar a ação dos médicos cubanos e o programa "Mais Médicos" do governo federal.

Com intenção de não afrouxar a sua pressão contra o atendimento médico pelo SUS aos mais pobres, de forma a favorecer a reserva de mercado, os planos de saúde e laboratórios, essa campanha cruel e desumana assusta pelo uso dos piores expedientes possíveis atingindo no coração uma profissão que dignificava seus praticantes até bem pouco tempo. 

A propósito, o Blog "Tijolaço" analisa neste texto outra vertente dessa campanha: a mídia...


aiaiai

“Ombud” da Folha diz “ai, ai, ai”

A jornalista Suzana Singer, ombudswoman da Folha, critica neste domingo a matéria de pura propaganda do jornal ao anunciar em manchete, sexta-feira,  que “Prefeitos demitirão médicos locais para receber os de Dilma”.
Ela reconhece que “embora uma das regras básicas da Folha seja sempre ouvir o outro lado, o Ministério da Saúde não foi procurado e que se a reportagem tivesse ouvido antes o Ministério da Saúde, o jornal teria registrado que há um cadastro on-line que permite ao governo “monitorar mudanças de equipe e punir os municípios que fizerem trocas”.
Mais, D. Suzana: teria sabido que o convênio que as prefeituras assinaram proíbe clara e expressamente que isso aconteça, sob pena de anulação.
Ela diz que a chefia justificou-se por não ouvir o Ministério porque o “outro lado” seriam os prefeitos. Os médicos são “da Dilma” para a manchete, mas para a apuração do jornal são “do prefeito do interior”.
Ah, bom…
Quer ver como uma apuração de estagiário, com a simples preocupação de perguntar à Assessoria de Comunicação do Ministério – ou passar alguns minutos no Google, como fez este blog, “derruba” a matéria de manchete para notinha?
“Embora isso seja proibido pelo convênio que assinaram com o Ministério da Saúde, alguns prefeitos pretendem substituir profissionais de suas unidades de Saúde por aqueles que receberão no programa “Mais Médicos”…
Pronto, o escândalo nacional teria se reduzido ao que é, uma pretensão de esperteza de meia dúzia de prefeitos interioranos.
A Folha sequer se deu ao trabalho de perguntar às supostas “vítimas” dos médicos cubanos onde trabalhavam, para saber se eram plausíveis as alegações de que faltavam sistematicamente ao serviço. A Dra. Junice Moreira, que Suzana reconhece ter recebido “grande destaque” do jornal, tem, segundo o cadastro do SUS, até primeiro de agosto deste ano, quatro empregos em prefeituras, distantes 442 quilômetros entre si, perfazendo uma carga horária de incríveis 128 horas semanais -18 horas e 15 minutos diários, se trabalhar de domingo a domingo, sem folga – , sem contar as viagens entre os seus plantões.
Isso é irrelevante, também? Basta dizer que saiu para dar lugar a um cubano e ajudar na histeria.
A ombusdwoman da Folha, como se previu aqui, diz “ai, ai, ai, pessoal” para os repórteres, mas se omite de dizer que a definição de que essa má apuração passou por toda a cadeia de comando do jornal até ser definida como manchete. E que essa cadeia de comando não é composta de correspondentes no interior, mas de gente com capacidade mais que sobrante para avaliar o rigor da apuração.
Para eles, nem “ai, ai, ai”.
Com esse nível de jornalismo, é estranho que ela se limite a afirmar que o jornal “errou um pouco a mão”.
Levou ao leitores – e aos muito mais não-leitores, porque manchetes funcionam como cartazes afixados em dezenas de milhares de bancas de jornais – um não-fato.
E divulgar não-fatos como verdades é desastroso, como a Folha deveria ter aprendido no malsinado caso da Escola-Parque.
Mesmo que alguns prefeitos pretendessem tentar fraudar o programa, isso não poderia acontecer sem consequências.
Pior, generalizou uma eventual intenção de um ou dois secretários de saúde (uma delas ex-vereadora tucana) para torná-la um fenômeno nacional:”Prefeitos demitirão médicos locais para receber os de Dilma”!
Nestes tempos em que a Folha pretende discutir ética médica, tomara que não seja com os parâmetros de sua ética jornalística.
Mas quem somos nós para criticar, não é? O Tijolaço é apenas um “guerrilheiro cibernético”, segundo a ombudswoman.
Que seja, mas não age assim: “criando”  informação para sustentar opinião.
PS. Peço  desculpas por ter grafado incorretamente – já corrigido –  o nome da jornalista Suzana Singer, por quem tenho respeito pessoal, embora critique as análises. Não houve intenção, mas foi erro do mesmo jeito e a gente corrige assim, francamente.

Por: Fernando Brito