Um excelente artigo do Professor Wanderley Guilherme dos Santos foi publicado pelo site do iG e merece atenção:
Licitações e leilões expõem o País a
decisões que comprometerão seu futuro
Wanderley Guilherme dos Santos (*)
Estes setembro e outubro darão o primeiro grande passo em
direção à disputa presidencial de 2014. O julgamento da Ação Penal 470
encaminha-se para final polêmico e a última impressão é a que marcará
seus inevitáveis desdobramentos até a eleição. As licitações e leilões
programados nas áreas ferroviária, rodoviária, aeroviária e no setor
petrolífero expõem o país a decisões que comprometerão seu futuro
razoavelmente previsível. Ao que virá se juntar a reformulação do Código
de Minas.
Entende-se que não é por acaso que as mesmas forças que
açulam o Supremo Tribunal Federal ao cometimento de uma condenação
fundada em fraudes, sonegação de informação, mentiras, contorcionismos
charlatanescos de lógica, além da consagração da extraordinária tese de
que a ausência de provas é, por isso mesmo, a evidência do crime,
agrupam-se entre os que consideram os agendados leilões e licitações
como algo precipitado, destinado ao fracasso, ou mesmo ilegal, como
agora em cima da hora descobriu o Tribunal de Contas da União. São
ingredientes da mesma aposta conservadora contra a coalizão de forças
sociais que sustenta o brilhante período da hegemonia petista no comando
político da nação.
Tempo virá, sem dúvida, em que as oposições renovadas
conseguirão formular projeto alternativo de governo capaz de persuadir a
maioria do eleitorado. Os eleitores não votam da mesma forma pelas
mesmas razões, quando o fazem, e por isso o resultado reflete uma
composição social plural impondo ao grupo líder vencedor a obrigação de
respeitar os interesses minoritários entre os vitoriosos. Com
frequência, todos os associados em uma coalizão de governo estão por
igual insatisfeitos na medida em que a ação governamental não pode ser
uniformemente favorável às suas opiniões. É em busca dessa associação
socialmente majoritária alternativa que as oposições legitimamente
trabalham e que, em algum momento, obterão sucesso.
Eventual fragilidade ou defeitos de um governo em
exercício não garante a existência automática de uma oposição apoiada em
base social alternativa. O país atravessa um desses períodos: há
insatisfação generalizada entre os membros da coalizão de governo e,
embora os interesses oposicionistas estejam solidamente agrupados no
combate ao PT e aliados, via degradação dos réus da Ação Penal 470, e na
sabotagem às licitações e leilões, têm fracassado em obter a adesão e o
aval da maioria dos grupos sociais ou da maioria em cada um desses
grupos.
A oposição ainda não apresentou persuasivo projeto de futuro,
limitando-se à elementar tarefa de negar mérito a qualquer iniciativa do
governo e, o mais das vezes, aderir ao lado errado do debate. A recente
iniciativa do programa “Mais Médicos” é o penúltimo exemplo disso.
As
duas grandes e últimas contendas até a eleição parecem ser o desenlace
nacional da Ação Penal 470 e a aposta gigantesca nos leilões e
licitações da infraestrutura. Pressentem os conservadores que se trata
de transcendente lance histórico a determinar o futuro de uma democracia
brasileira com mais igualdade de justiça, mais soberana e com maior
poder de decisão sobre seu próprio destino. Até agora não apresentaram
uma visão prospectiva cujo perfil desperte o entusiasmo da população.
Aspecto a não ser negligenciado, dependerá das
consequências dos lances atuais a futura capacidade do Brasil de
defender sua soberania e independência e a desempenhar papel mais
positivo na sinfonia internacional. Até lá, as cicatrizes no orgulho
nacional tendem a aumentar, na mesma proporção em que o país fique
atrasado em seu desenvolvimento científico e tecnológico. Os exemplos
são de anteontem.