A Folha de S. Paulo, o inefável jornal do Otavinho, vez por outra comete uma sensatez. Hoje foi matéria sobre um verdadeiro herói brasileiro, o geólogo Guilherme Estrella, o homem que envolveu Lula e Dilma no Pré-sal e na Petrobras com empresa estratégica para o cerscimento do País.
A matéria é relevante e deveria parte de currículo em todas as nossas escolas por mostrar na prática o que intencionavam os que queriam fazê-la Petrobrax em 1995...
O homem que inventou o pré-sal levava mapa de campos da bacia de Santos no bolso
DEPOIMENTO A DENISE LUNA
DO RIO
DO RIO
Oito anos depois de aposentado, Guilherme Estrella foi chamado de volta
ao trabalho. Dois anos depois da posse do presidente Lula, levava ao
presidente os mapas dos gigantescos reservatórios do pré-sal brasileiro,
concentrado na bacia de Santos. Virou o "pai do pré-sal" para Lula.
Cotado para presidir a PPSA, que vai administrar os contratos de
partilha do pré-sal, ele diz não querer nem pensar na possibilidade.
*
Nasci durante a Segunda Guerra, justamente a responsável por fazer da geologia a ciência de maior crescimento na época. Os submarinos alemães se escondiam em formações geológicas em frente aos EUA, daí a necessidade de conhecer essa ciência.Sou de uma família classe média da Ilha do Governador, zona norte do Rio. Vivia de frente para a baía de Guanabara, que não era o esgoto que é hoje. Morávamos na Lagoa, na zona sul, mas meu pai reclamava do barulho da obra do bonde e nos mudamos.Fui o geólogo descobridor de um dos maiores poços da bacia do Recôncavo, Miranga, no interior da Bahia, que produz até hoje. A Petrobras produzia 100 mil barris por dia. Em 1966 fiz um levantamento de Alagoas até Vitória e encontrei formações favoráveis a muito petróleo.Tinha uma frase famosa, do geólogo americano Walter Link, de que o petróleo no Brasil era no mar, e não em terra. Com os primeiros dados, foi dada a autorização para contratar sonda e perfurar no mar.Eu vivia no interior da Bahia e nem via os movimentos políticos, não participava de nada, mas sabia que os governos militares sempre privilegiaram a Petrobras.
A empresa nunca foi uma empresa do governo, mas de governo, seja qual for.Na época do Geisel [presidente Ernesto Geisel, 1974-1979] fizemos a primeira perfuração no mar do Espírito Santo, no campo de Guaricema. Os testes indicaram óleo, mas subcomercial. Conta-se que Geisel não aceitou e disse que ia produzir de qualquer maneira, e acabou sendo a primeira descoberta relevante do Brasil.
Daniel Marenco/Folhapress | ||
O ex-diretor da Petrobras, Guilherme Estrella, chamado de 'pai do pré-sal' |
Descobrimos assim que as simulações que eram feitas antes estavam erradas.
No início dos anos 1970 eram produzidos entre 5.000 e 10 mil barris por dia no mar.
Nessa época fundaram a Braspetro [1972], durante a crise do petróleo,
porque os países fornecedores exigiam que os compradores investissem
onde compravam, para achar mais petróleo. Faziam isso países como
Argélia, Egito, Iraque, Irã e Líbia, que vendiam para o Brasil.
Fui trabalhar no Iraque em 1976 e descobrimos um dos maiores campos do mundo, Majnoon, com 50 bilhões de barris de reservas.
O campo ficava perto do Irã e não podíamos queimar o óleo do teste de
formação de poço. Tive que abrir uma bacia enorme no deserto para
colocar o óleo.
Mas a Petrobras teve que devolver o campo. O governo nos chamou e disse
que grandes campos não faziam parte da política de permitir a operação
de estrangeiras no país, que deviam apenas complementar a produção.
A Petrobras foi indenizada direitinho e algumas empresas brasileiras
também foram beneficiadas. A Mendes Júnior foi construir estrada de
ferro, a Sadia entrou no mercado lá e passamos a exportar Passats para
lá.
Voltei ao Brasil em 1978 e fui trabalhar na bacia do Espírito Santo. A
bacia de Campos já produzia mais que as outras, mas é um estigma, eu
nunca trabalhei na bacia de Campos. Vimos que o petróleo no Espírito
Santo estava mais embaixo do que previra o Cenpes, centro de pesquisa da
Petrobras.
Perfurar mais fundo foi uma dica que veio de um geólogo franco-americano
que trabalhava na Chevron. Ninguém vende uma informação dessa, ele
nunca ganhou um tostão por isso.
Fui para o Cenpes e, em 1982, assumi a superintendência. Nessa época já se falava sobre a teoria da separação das placas tectônicas dos continentes sul-americano e africano, que levaram à formação dos reservatórios similares em ambas as costas, mas não havia tecnologia para pesquisar isso.
Fui para o Cenpes e, em 1982, assumi a superintendência. Nessa época já se falava sobre a teoria da separação das placas tectônicas dos continentes sul-americano e africano, que levaram à formação dos reservatórios similares em ambas as costas, mas não havia tecnologia para pesquisar isso.
No Cenpes elegemos um colega para uma vaga importante, mas a diretoria
vetou porque ele era presidente da Associação dos Engenheiros da
Petrobras. Eu pedi demissão, não aceitei. Isso era 1995, a ditadura já
tinha acabado.
Minha esposa morrera um mês antes. Fui morar em Friburgo [região serrana
do Rio], casei de novo, entrei para o PT. Fui eleito presidente porque
era único com tempo e dinheiro. E também porque a outra chapa perdeu
prazo para se habilitar.
Quando Lula ganhou em 2002 fizemos a maior festa. Recebi ligações
dizendo que se falava em meu nome para voltar à Petrobras. Recebi um
convite do José Eduardo Dutra [presidente da empresa] e voltei.
Quando cheguei lá, não encontrei uma empresa de petróleo, mas uma
instituição financeira que investia no setor de petróleo. Tinham acabado
com os cursos fora, com as viagens para seminários. Estavam
concentrados apenas na bacia de Campos, fazendo caixa, sem investir.
Começamos a expansão. E no primeiro leilão de áreas de petróleo eu vi
que a coisa era séria. Quando perdi o primeiro bloco para a Devon, que
colocou 100% de conteúdo nacional, a então ministra Dilma Rousseff me
ligou cinco minutos depois e disse: "Soube que você perdeu um bloco,
isso não vai se repetir, está entendido?".
E claro que não perdi mais nenhum. Ali eu senti que a Petrobras ia reassumir a hegemonia do setor de petróleo no Brasil.
No final de 2005, o gerente-executivo Mario Carminatti me trouxe uns
mapas da "picanha azul", como ficou conhecida a área do pré-sal da bacia
de Santos. Fui ao Gabrielli [José Sergio Gabrielli, então presidente da
Petrobras] e ele me levou para a Dilma, que me levou ao Lula.
Foi aí que começamos a fazer o marco regulatório, eu era o único geólogo
naquelas reuniões do marco. O maior embate foi a Petrobras como
operadora única, mas só inova quem faz, e decidimos manter assim.
O Lula me chamava toda hora lá em Brasília para mostrar a apresentação de como era o pré-sal, já andava com o pendrive no bolso.
Fiquei muito orgulhoso de participar do marco regulatório, mas vi que
era a hora de parar. Estava com 70 anos. Trabalhava de 7h às 21h, morava
em uma apart-hotel no Leblon, estava separado.
Ocorreu uma revolução tecnológica, a Petrobras estava completamente diferente de quando cheguei.
Ficou claro para mim que não dava mais, tinha que deixar a turma nova entrar.
Muita empresa me chamou para participar do conselho de administração,
mas não acho certo, possuo informações confidenciais da companhia, é
difícil trabalhar numa concorrente. Não me arrependo. Estou cuidando do
meu acervo, das minhas coleções em Friburgo, das plantas.