Já estão enchendo a paciência da gente as manifestações e passeatas dos médicos e dos estudantes riquinhos para boicotar o programa "Mais Médicos" do governo federal e defender a mercantilização da profissão.
Um dos argumentos mais usados é o da inexistência de condições para o exercício da profissão no interior. Isso é repetido à exaustão por profissionais da medicina em suas passeatas que, até agora, só fizeram por onde agredir a realidade, mentir para o povo e transformar uma belíssima profissão em "classe de inimigos públicos no país.
Este texto, apesar de longo, mostra a realidade que os "mercadores da vida" insistem em negar:
Cidade do RS oferece estrutura e R$ 10 mil por mês, mas faltam médicos
Centro de Saúde de Carlos Barbosa sofre com a falta de médicos
Foto: Prefeitura de Carlos Barbosa / Divulgação
Matheus PesselDireto de Porto Alegre
Localizada na Serra Gaúcha, a cidade de Carlos Barbosa é
a segunda melhor no Brasil em distribuição de renda e tem o 23º maior
PIB per capita do Rio Grande do Sul. Com 25 mil habitantes, o município
tem um centro de saúde, inaugurado em dezembro de 2004, e cinco unidades
para atender a população. A prefeitura oferece exames laboratoriais, de
raio-X, tomografias, mamografias, ecografias, endoscopias,
colonoscopias, eletrocardiogramas, ressonâncias magnéticas,
ecocardiogramas. Os médicos recebem salário de R$ 4.630,31 (20 horas
semanas) e R$ 9.260,61 (40 horas), além de um adicional de insalubridade
de R$ 529,55. Mesmo assim, faltam médicos para atender a população.
A cidade gaúcha recentemente encerrou as inscrições para
preencher as vagas de médicos. Mesmo com o salário de quase R$ 10 mil e
a infraestrutura oferecidos, com quatro vagas ofertadas para
contratação imediata, somente uma pessoa se inscreveu.
Cidade terminou a construção de um centro radiológico e agora aguarda a compra de equipamentos de exames
Foto: Prefeitura de Carlos Barbosa / Divulgação
"Aqui, nós estamos muito bem posicionados. Estamos a 100
quilômetros de Porto Alegre, 40 km de Caxias (do Sul), 15 km de Bento
Gonçalves. Nós temos uma boa estrutura física. Nós temos um centro de
saúde que o (Fernando) Lucchese (cardiologista famoso por seus livros para o público leigo)
esteve aqui e disse que 'parece mais um apart-hotel do que um centro de
saúde'. Temos toda uma infraestrutura aqui", diz o prefeito Fernando
Xavier da Silva (PDT).
Segundo Silva, se não é a estrutura nem qualidade de
vida na cidade que afastam os médicos, sobra uma explicação: os
salários. Para ele, os médicos na região conseguem mais dinheiro com
consultórios privados e planos de saúde e a remuneração não é atraente
para esses profissionais da saúde.
"Acredito que o valor-hora oferecido pela cidade não
seja atraente para os médicos, pela própria concorrência do mercado ao
redor, principalmente de Caxias (do Sul) e Bento (Gonçalves)",
diz Fernando Matos, vice-presidente do Conselho Regional de Medicina do
Rio Grande do Sul (Cremers). Para ele, a região da Serra Gaúcha oferece
uma remuneração muito alta, principalmente os planos de saúde, e os
profissionais da saúde não escolhem trabalhar no setor público.
Morador faz fisioterapia no centro de saúde
Foto: Prefeitura de Carlos Barbosa / Divulgação
E para pagar um salário maior? Os cofres públicos
aguentariam? "Aí vai depender da capacidade gestora de quem tem a
obrigação de fazer a administração pública. Eu acho que nós teremos que
fazer algum tipo de corte em algum lugar e repassar para a área da saúde
algum recurso para tentar via remuneração melhor (atrair médicos),
e eu estou fazendo um estudo para passar para R$ 6 mil para 20 horas e,
consequentemente, R$ 12 mil para 40 horas para ver se torno mais
atrativo esse serviço aqui no município", diz o prefeito.
Mais Médicos
Para tentar acabar com
o déficit de médicos, a prefeitura de Carlos Barbosa se inscreveu no
programa Mais Médicos, do governo federal, que oferece bolsas de R$ 10
mil para esses profissionais de saúde.
O prefeito afirma que o programa "tem algum fundamento",
mas precisa de ajustes. Silva defende que o projeto deve se esforçar em
trazer médicos brasileiros. "Aí se, não tendo condição deve-se
contratar estrangeiros.