Do professor Luíz Carlos Bresser-Pereira, ex-líder tucano que,
em
texto publicado pelo site Luís Nassif Online sob o título "Eles não têm
medo da democracia"
As
impressionantes manifestações de junho alcançaram seu objetivo específico, a
revogação dos reajustes dos ônibus, mas, ao contrário das Diretas Já ou da
Primavera Árabe no Egito e na Tunísia, que tinham uma meta clara, a democracia,
os manifestantes querem a melhoria da qualidade da democracia, algo que não se
alcança em um dia.
O
risco é o de aprofundar uma desmoralização dos políticos que, nos últimos dez
anos, se agravou no Brasil, e, assim, afastar ainda mais da política os jovens
mais talentosos. Ora, não há democracia sem política e sem representação.
A
democracia participativa é um objetivo, mas longínquo: enquanto isso, não há
construção social da nação e do Estado sem a intermediação dos políticos.
A
desmoralização dos políticos é uma estratégia liberal clássica; é uma forma
pela qual as elites, que temem a democracia, buscam neutralizar aqueles que em
princípio representam esse povo. É verdade que os políticos facilitam essa
tarefa quando se deixam corromper: não representam seus eleitores, mas seus
próprios interesses e os daqueles que os financiam.
Mas
no Brasil, na última década, a campanha de desmoralização cresceu de forma
brutal. Foi se formando um "consenso" perverso: os políticos seriam
corruptos, não obstante os serviços que já prestaram ao Brasil, e não serem
eles, hoje, piores do que eram no passado.
Um
fato novo agravou o tradicional medo da democracia das elites. Há dez anos,
pela primeira vez na história, o Brasil é governado por uma coalizão de
esquerda.
É
verdade que por uma centro-esquerda social-democrata, que vem atraindo
empresários a uma política desenvolvimentista, mas, de qualquer forma, um
governo que não se deixou cooptar pelas elites liberais. Isto é inaceitável
para elas, e as leva a aumentar a violência da crítica. Esse fato novo talvez
explique a grande perda de confiança no Congresso e nos políticos nos últimos
dez anos. E ajuda a explicar a dimensão das manifestações.
Creio
que elas, afinal, ajudarão a melhorar a qualidade da democracia brasileira, mas
desde que representem uma cobrança aos políticos, e não a desmoralização das
instituições democráticas e dos próprios políticos, algo que não interessa aos
jovens manifestantes, porque eles não têm medo da democracia.
Texto
completo em: http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/clipping-do-dia-1046#comments