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sexta-feira, 26 de abril de 2013

O jornalismo por um jornalista... 



Na atual conjuntura política, a análise de Luciano Martins Costa em artigo intitulado "Em rota de colisão" para o Observatório da Imprensa, põe o dedo na ferida. 

É bela análise que merece ser lida: 



Os três poderes da República estão claramente contaminados por certo radicalismo, que se agrava rapidamente com a proximidade de eleições. Como suas ações, intenções e manifestações passam pelo filtro da imprensa, seria natural que o leitor e eleitor pudesse contar com alguma fonte confiável para conferir suas convicções. Mas a prática dos jornais não aconselha uma leitura inocente: a narrativa da imprensa denuncia escolhas que definem a interpretação dos fatos antes mesmo que aconteçam.

Por exemplo, se tal ou qual personagem da vida pública fizer um gesto, tomar uma atitude ou produzir uma ação, a imprensa, em sua expressão hegemônica, examinará tal manifestação conforme essa matriz de valores que delimitam o campo da disputa ideológica que é o pano de fundo de toda controvérsia. De tão viciado o jogo, é provável que já nenhum dos lados se lembre de como tudo começou, mas os editores sabem muito bem o que está em disputa.

Mas não é tudo parte do jogo democrático? – perguntaria alguém ainda abençoado pela inocência. Sim, diria o analista ponderado. Acontece que, na transferência dos fatos isolados para o chamado espaço público, os atos, gestos e manifestações ganham outro significado, que lhes dá a imprensa.

É na narrativa, essência do fazer jornalístico, que ocorre tal transformação. Assim, da palavra de um político ou de um magistrado a imprensa constrói uma realidade. O ponto central dessa crise é, portanto, a capacidade ou o interesse da imprensa em fazer uma mediação minimamente equilibrada da controvérsia.

Como diz o teórico português Nelson Traquina, o jornalista precisa dominar o “saber da narração” e o papel “essencialmente conservador e legitimador” do jornalista deve ser exercido na “região do consenso”, ou seja, na temática que congrega os valores consensuais da sociedade, como a defesa da democracia e da legitimidade dos poderes.

Outra coisa é a “esfera da controvérsia legítima”, onde as principais virtudes do jornalismo seriam relacionadas à objetividade. Finalmente, há também, segundo essa teoria, o terceiro campo, a “esfera do desvio”, onde o jornalismo deveria identificar na agenda pública o que seriam atos políticos legítimos ou ilegítimos.
 
Texto completo em: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/em_rota_de_colisao