Na atual conjuntura política, a análise de Luciano Martins Costa em artigo intitulado "Em rota de colisão" para o Observatório da Imprensa, põe o dedo na ferida.
É bela análise que merece ser lida:
Os três poderes da República estão claramente
contaminados por certo radicalismo, que se agrava rapidamente com a proximidade
de eleições. Como suas ações, intenções e manifestações passam pelo filtro da
imprensa, seria natural que o leitor e eleitor pudesse contar com alguma fonte
confiável para conferir suas convicções. Mas a prática dos jornais não
aconselha uma leitura inocente: a narrativa da imprensa denuncia escolhas que definem
a interpretação dos fatos antes mesmo que aconteçam.
Por exemplo, se tal ou qual personagem da
vida pública fizer um gesto, tomar uma atitude ou produzir uma ação, a
imprensa, em sua expressão hegemônica, examinará tal manifestação conforme essa
matriz de valores que delimitam o campo da disputa ideológica que é o pano de
fundo de toda controvérsia. De tão viciado o jogo, é provável que já nenhum dos
lados se lembre de como tudo começou, mas os editores sabem muito bem o que
está em disputa.
Mas não é tudo parte do jogo democrático? –
perguntaria alguém ainda abençoado pela inocência. Sim, diria o analista
ponderado. Acontece que, na transferência dos fatos isolados para o chamado
espaço público, os atos, gestos e manifestações ganham outro significado, que
lhes dá a imprensa.
É na narrativa, essência do fazer
jornalístico, que ocorre tal transformação. Assim, da palavra de um político ou
de um magistrado a imprensa constrói uma realidade. O ponto central dessa crise
é, portanto, a capacidade ou o interesse da imprensa em fazer uma mediação
minimamente equilibrada da controvérsia.
Como diz o teórico português Nelson Traquina,
o jornalista precisa dominar o “saber da narração” e o papel “essencialmente
conservador e legitimador” do jornalista deve ser exercido na “região do
consenso”, ou seja, na temática que congrega os valores consensuais da
sociedade, como a defesa da democracia e da legitimidade dos poderes.
Outra coisa é a “esfera da controvérsia
legítima”, onde as principais virtudes do jornalismo seriam relacionadas à
objetividade. Finalmente, há também, segundo essa teoria, o terceiro campo, a
“esfera do desvio”, onde o jornalismo deveria identificar na agenda pública o
que seriam atos políticos legítimos ou ilegítimos.
Texto completo em: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/em_rota_de_colisao