Editorial do jornal "O Globo" de 2 de abril de 1964
Neste 2 de abril vale recordar um dos documentos mais significativos e emblemáticos da posição política do jornal carioca "o Globo" e da família Marinho em rerlação à demcracia e ao golpe de estado desfechado em 1º de abril de 1964 para depor o presidente constitucionalmente eleito, João Goiulart, e impor em seu lugar um regime ditatorial que durou 21 anos...
Transcrito do Blogg do Amoral Nato
A história inabalável: Editorial do jornal “O Globo” de 2 de abril de 1964, celebrou o Golpe Militar
Leia a seguir, na íntegra, o posicionamento histórico e irreparável do
jornal da família Marinho durante o processo que removeu, à força, um
governo democraticamente eleito e instaurou uma ditadura militar no
Brasil. Na foto abaixo, a capa do jornal O Globo, celebrando o
“ressurgimento da democracia”, um dia após o Golpe Militar.
Editorial de “O Globo” do dia 02 de abril de 1964
“Ressurge a Democracia”
Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os
patriotas, independentemente de vinculações políticas, simpatias ou
opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é essencial: a
democracia, a lei e a ordem. Graças à decisão e ao heroísmo das Forças
Armadas, que obedientes a seus chefes demonstraram a falta de visão dos
que tentavam destruir a hierarquia e a disciplina, o Brasil livrou-se do
Governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários
à sua vocação e tradições.
Como dizíamos, no editorial de anteontem, a legalidade não poderia
ser a garantia da subversão, a escora dos agitadores, o anteparo da
desordem. Em nome da legalidade, não seria legítimo admitir o assassínio
das instituições, como se vinha fazendo, diante da Nação horrorizada.
Agora, o Congresso dará o remédio constitucional à situação
existente, para que o País continue sua marcha em direção a seu grande
destino, sem que os direitos individuais sejam afetados, sem que as
liberdades públicas desapareçam, sem que o poder do Estado volte a ser
usado em favor da desordem, da indisciplina e de tudo aquilo que nos
estava a levar à anarquia e ao comunismo.
Poderemos, desde hoje, encarar o futuro confiantemente, certos,
enfim, de que todos os nossos problemas terão soluções, pois os negócios
públicos não mais serão geridos com má-fé, demagogia e insensatez.
Salvos da comunização que celeremente se preparava, os brasileiros
devem agradecer aos bravos militares, que os protegeram de seus
inimigos. Devemos felicitar-nos porque as Forças Armadas, fiéis ao
dispositivo constitucional que as obriga a defender a Pátria e a
garantir os poderes constitucionais, a lei e a ordem, não confundiram a
sua relevante missão com a servil obediência ao Chefe de apenas um
daqueles poderes, o Executivo.
As Forças Armadas, diz o Art. 176 da Carta Magna, “são instituições
permanentes, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a
autoridade do Presidente da República E DENTRO DOS LIMITES DA LEI.”
No momento em que o Sr. João Goulart ignorou a hierarquia e
desprezou a disciplina de um dos ramos das Forças Armadas, a Marinha de
Guerra, saiu dos limites da lei, perdendo, conseqüentemente, o direito a
ser considerado como um símbolo da legalidade, assim como as condições
indispensáveis à Chefia da Nação e ao Comando das corporações militares.
Sua presença e suas palavras na reunião realizada no Automóvel Clube,
vincularam-no, definitivamente, aos adversários da democracia e da lei.
Atendendo aos anseios nacionais, de paz, tranqüilidade e progresso,
impossibilitados, nos últimos tempos, pela ação subversiva orientada
pelo Palácio do Planalto, as Forças Armadas chamaram a si a tarefa de
restaurar a Nação na integridade de seus direitos, livrando-os do amargo
fim que lhe estava reservado pelos vermelhos que haviam envolvido o
Executivo Federal.
Este não foi um movimento partidário. Dele participaram todos os
setores conscientes da vida política brasileira, pois a ninguém escapava
o significado das manobras presidenciais. Aliaram-se os mais ilustres
líderes políticos, os mais respeitados Governadores, com o mesmo intuito
redentor que animou as Forças Armadas. Era a sorte da democracia no
Brasil que estava em jogo.
A esses líderes civis devemos, igualmente, externar a gratidão de
nosso povo. Mas, por isto que nacional, na mais ampla acepção da
palavra, o movimento vitorioso não pertence a ninguém. É da Pátria, do
Povo e do Regime. Não foi contra qualquer reivindicação popular, contra
qualquer idéia que, enquadrada dentro dos princípios constitucionais,
objetive o bem do povo e o progresso do País.
Se os banidos, para intrigarem os brasileiros com seus líderes e com
os chefes militares, afirmarem o contrário, estarão mentindo, estarão,
como sempre, procurando engodar as massas trabalhadoras, que não lhes
devem dar ouvidos. Confiamos em que o Congresso votará, rapidamente, as
medidas reclamadas para que se inicie no Brasil uma época de justiça e
harmonia social. Mais uma vez, o povo brasileiro foi socorrido pela
Providência Divina, que lhe permitiu superar a grave crise, sem maiores
sofrimentos e luto. Sejamos dignos de tão grande favor.”