Da:
JURO E TOMATE:
O MOLHO AZEDO DO LAISSEZ-FAIRE
A
instabilidade climática que indexou o país ao tomate nas últimas
semanas veio para ficar. O Brasil é o quinto lugar do planeta mais
alvejado por desastres climáticos na última década. O semiárido
nordestino vive uma das piores secas em meio século. A resposta ortodoxa
para eventos climáticos extremos será sempre a mesma: ‘sobe o juro!'
Não importam os custos, nem as causas. A ausência de uma política
estatal de estoques de alimentos acentua a vulnerabilidade ao clima
desordenado. Tido como um dos maiores celeiros do mundo, o Brasil
simplesmente não dispõe de celeiros suficientes para intervir no
abastecimento. A rede pública de armazéns foi privatizada e sucateada
nos governos Collor e FHC. Esta semana, quando já galgava o patíbulo do
Copom, o governo, finalmente, decidiu espetar armazéns estatais em áreas
estratégicas do território nacional. Nas últimas décadas, a supremacia
neoliberal colonizou a agenda da segurança alimentar em todo o mundo.
Aos livres mercados -‘mais eficientes e ágeis'- caberia assegurar o
suprimento da sociedade. No ápice da especulação e da fome geradas pelo
colapso financeiro de 2007/2008, nações e organismos internacionais
viram-se desarmados. Onde estavam os estoques? Onde continuam a
repousar. Nos celeiros das grandes corporações que manipulam o comércio
agrícola mundial. A alta do juro desta 4ª feira condensa essa trama de
interesses e engodos, que compõem o molho azedo do laissez-faire.