As viagens de Lula, FHC e Aécio
Por Altamiro Borges - No Blog "Sintonia Fina"
Otavinho
Frias, dono da Folha, nunca tolerou Lula – “o presidente que não fala
inglês”. Com tamanho ódio de classe, seu jornal sempre produz factoides
para detonar a imagem do ex-líder operário. Na sexta-feira, o diário
acusou o ex-presidente de promover lobby em suas palestras
internacionais. Segundo a manchete, “quase metade das viagens de Lula é
paga por empreiteiras”. O próprio jornal admite que não há nada de
ilegal nestas caravanas. Mas insiste em fustigar Lula, que mantém alta
popularidade junto à população!
Desde
2011, quando deixou o Palácio do Planalto, Lula visitou 30 países – 20
deles na América Latina e na África. Com estardalhaço, a Folha informa
que o giro africano da semana passada foi patrocinado pela Odebrecht. O
Instituto Lula explicou que estas viagens visam reforçar as relações
entre os dois continentes e consolidar a “imagem e os interesses da
nação brasileira”. Mesmo assim, o jornalão deixou no ar, com a sua
manchete escandalosa, que elas serviriam para propositivos ilícitos –
das empresas e do próprio PT.
Os cães sarnentos da mídia
A
Folha chega a insinuar que o ex-presidente usa o seu prestígio para
interferir nos rumos do governo. “No exterior, Lula participou de
encontros privados entre políticos locais e empresários brasileiros,
além de prometer levar pedidos a Dilma Rousseff”. Diante de mais esta
tentativa de estimular a cizânia, a própria presidenta reagiu: “Eu me
recuso a entrar nesse tipo de ilação. O presidente Lula tem o respeito
de todos os Chefes de Estado da África e deu grande contribuição ao país
nessa área”, disse ao Estadão, rival da Folha.
Amestrado
pela mídia, o líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP), já
saiu atirando: “Se ele quer fazer lobby, que receba honorários para
isso. Feito por baixo dos panos é indecoroso”. Álvaro Dias (PR) também
usou o factoide da Folha. “É importante que o ex-presidente esclareça
isso. Fica a impressão de benefícios governamentais retribuídos com
vantagens posteriores”. Já Sérgio Guerra, jagunço do PSDB, atacou: "O
Brasil aguarda que o ex-presidente revele qual a remuneração que recebeu
para fazer lobby”.
Sabesp, Itaú e FHC
Já
que a mídia e seus teleguiados tucanos estão tão interessados na
“transparência”, eles deveriam cobrar explicações também do
ex-presidente FHC e do senador Aécio Neves, o cambaleante presidenciável
da legenda. A imprensa deveria deixar de ser hipócrita na sua
escandalização seletiva. Ele poderia pedir esclarecimentos à estatal
paulista Sabesp, comandada pelos tucanos, que doou R$ 500 mil para o
Instituto FHC. Ou solicitar informações ao Banco Itaú, que já patrocinou
várias viagens do ex-presidente.
Como
lembra Hugo Carvalho, em texto postado no blog de Luis Nassif, “nas
asas do Itaú, seu patrocinador máster, Fernando Henrique esteve no
Paraguai em 2010, no dia em que o banco inaugurou a operação para tomar o
mercado no país vizinho. O Itaú também o levou a Doha e aos Emirados
Árabes ano passado, com a intenção de morder parte dos 100 milhões de
dólares que o Barwa Bank tem para investir no mercado imobiliário
brasileiro. A Folha estava lá (mas não diz quem pagou a viagem da
colunista Maria Cristina Frias)”.
O
articulista lembra que “Fernando Henrique ainda era presidente da
República, em 2002, quando chamou ao Palácio da Alvorada os donos de
meia dúzia empresas para alavancar o instituto que ainda ia criar:
Odebrecht, Camargo Corrêa, Bradesco, Itaú, CSN, Klabin e Suzano. A elas
se juntaria a Ambev. Juntas, pingaram R$ 7 milhões no chapéu de FH...
FHC e seu instituto prosperaram. No primeiro ano como ex-presidente ele
faturou R$ 3 milhões em palestras... Todas as empresas citadas neste
relato são anunciantes da Folha de São Paulo e estão acima de qualquer
suspeita enquanto anunciantes. Apodrecem, aos olhos do jornal, quando se
aproximam de Lula”.
As viagens de Aécio ao Rio de Janeiro
Outra
pauta para o “jornalismo investigativo” (na verdade, seletivo) da
Folha: as viagens (ou baladas?) de Aécio Neves. Segundo matéria do
Estadão, fervoroso serrista, o tucano mineiro torrou 63% da sua cota de
passagens no Senado para visitar o Rio de Janeiro. O uso do dinheiro
público nestas viagens não gerou manchetes ou qualquer alarde na mídia
tucana. Em Minas Gerais, segundo o sítio “Minas sem Censura”, esta
denúncia inclusive foi retirada das páginas dos jornalões locais, que
blindam o presidenciável do PSDB.