Como se montam as fraudes eleitorais
qui, 23/10/2014 - 09:54
Atualizado em 23/10/2014 - 12:20
Nas eleições para presidente dos Estados Unidos, em 1877, William
Smith, um dos principais acionistas da Western Telegraph - dona da
primeira agência de notícias do país, a Associated Press - juntou-se com
o The New York Times para eleger o candidato republicano Rutherford
Hayes.
No final da campanha, os institutos de pesquisa davam vitória ao
democrata Samuel Tiden por 200 mil votos. Com o controle que detinha
sobre as informações e com acesso às pesquisas, o editor do NY Times
identificou dúvidas dos democratas em relação aos votos de uma parte do
sul do país.
Montou-se um gigantesco esquema de fraude que garantiu a vitória a Hayes.
Em 1982, a Globo montou um sistema nacional de apuração usando como
software a Proconsult. O sistema tinha um algoritmo que subtraia votos
do MDB e repassava para a Arena. A intenção era desmobilizar a
fiscalização do MDB para permitir a fraude na hora da apuração.
No Rio, Leonel Brizola percebeu e botou a boca no trombone - na
época, ainda existia o trombone do Jornal do Brasil. No Rio Grande do
Sul, Pedro Simon acreditou e desmobilizou a fiscalização. Perdeu as
eleições, com os votos em branco sendo preenchidos em favor da Arena.
A fraude na era eletrônica
Vamos supor que estivesse em curso, no Brasil, alguma tentativa de fraudar as eleições. Como seria?
Teria que se valer de um quadro eleitoralmente equilibrado. Temos.
Na véspera da eleição, terias que ocorrer algum fato novo que
"explicasse" eventual reviravolta do candidato da oposição. Poderia ser a
indicação de um Joaquim Barbosa para Ministro da Fazenda? Alguma
denúncia nova, sobre a qual se fizesse enorme alarido?
Depois, teria que ter o controle sobre pontos chave do sistema
eletrônico. A volatilidade dos votos, nessas eleições encobriria
eventuais golpes e as ondas captadas pelas pesquisas poderiam ser
potencializadas nos lugares certos.
Obviamente estamos falando em tese, com uma visão nitidamente conspiratória.
Mas, digamos que em pontos chave dos desenvolvedores do sistema de votação existissem empresas no mínimo suspeitas, A matéria O histórico de favorecimento e irregularidades nas licitações das urnas eletrônicas sobre as licitações no TSE mostra um quadro bastante confuso.
Ficaria mais confuso se se levantassem os novos controladores dessas empresas.
Uma das líderes é a Módulo, empresa tradicional que trabalha no segmento de segurança desde os anos 90.
Recentemente, ela foi adquirida por Sérgio Thompson Flores. Quem é ele?
Funcionário público de carreira, nos anos 90, ele foi beneficiado
pelo BNDES de Fernando Henrique Cardoso com consultoria na área de
privatização. Ganhou dinheiro e sede de sangue.
Depois disso, meteu-se em várias embrulhadas sempre buscando a bala
de prata, a grande jogada. Jamais se contentou com o trabalho normal de
fazer crescer sua empresa.
Aliou-se a Luiz Fernando Levy, da Gazeta Mercantil, e tentou um golpe
para assumir a empresa. Depois, meteu-se em rolos com Tanure, que
adquiriu a Mercantil. Mais tarde, passou a prestar serviços a Daniel
Dantas, do Opportunity, Na auditoria realizada na Brasil Telecom, depois
que saiu das mãos de Dantas, Thompson Flores aparece em inúmeras
reuniões com Humberto Braz, o executivo operacional junto à mídia.
Quando começou a febre do etanol, montou um fundo de investimento
sediado em Londres, captou dinheiro de incautos para um projeto
amalucado de comprar usinas antigas em regiões economicamente inviáveis.
Quebrou.
Depois disso, adquiriu a Módulo. Qual sua intenção? Desenvolve-la sem
balas de prata? Um empresário que passou a vida tentando a grande
tacada tentando agora uma carreira convencional?
A segunda empresa-chave das apurações é um rolo interminável. É do
mesmo grupo que controlava a empresa anterior, entrou em nome de
parentes e, durante algum tempo, teve participação acionária de Wilson
Nélio Brumer, atualmente caixa de campanha de Aécio Neves.
Pode ser coincidência, teoria conspiratória. Mas seria medida de
prudência se a Abin e a Policia Federal colocassem seus técnicos para
uma auditoria completa e um acompanhamento do sistema antes da apuração.