A "Carta Capital" publica um artigo interessante do no qual a tese do "Volta Lula" é abordado de forma diferenciada. Vale a pena lê-lo:
Carta Capital - Política
Eleições
Lula for president?
Entende-se por que há quem imagine o retorno do
ex-presidente ao comando do Estado e do governo. Mas Dilma tem condições
por ora de superar as dificuldades do momento
Roberto Stuckert Filho/Presidência da Republica
Dilma e Lula. Há quem imagine o retorno do ex-presidente, mas Dilma pode superar as atuais dificuldades e se manter
Um velho amigo, sábio
judeu, sempre me lembra: “Os prognósticos eleitorais são como os
perfumes: têm de ser cheirados, nunca bebidos. No primeiro caso são
muito bons, no segundo podem criar efeitos devastadores!” Aplicar tal
sentença às pesquisas divulgadas recentemente sobre as intenções de voto
dos brasileiros me parece no mínimo oportuno. As mudanças de orientação
nas escolhas presidenciais por parte do eleitorado parecem muito
volúveis para acreditar cegamente nelas. Dito isso, é aconselhável
enxergar as tendências subjacentes ao processo democrático e tentar
elaborar ideias de fôlego.
Considerando-se o amplo consenso
popular conquistado pelo curso lulista da última década, não há dúvida
de que Dilma Rousseff, se confirmasse sua candidatura, estaria em
condição de reconquistar a Presidência em 2014. Graças também ao
fundamental apoio eleitoral de Lula ela teria força suficiente para
superar o impasse pelo qual está passando nos últimos tempos.
O maior interesse do povo
brasileiro nesta fase reside, no entanto, no automático segundo mandato
da honesta presidenta. Ou será que outras considerações estratégicas se
impõem diante do debate nacional que finalmente se desencadeou, em
consequência da efervescência social?
Os que afirmam que o Brasil teve
nos últimos dez anos um governo do PT erram por aproximação e criam um
equívoco político. O Partido dos Trabalhadores, mais simplesmente,
obteve a chefia do Estado e do governo sem nunca ter maioria homogênea
no Parlamento. Viu-se obrigado, portanto, aos compromissos deletérios
que conhecemos e, em relação a suas origens, sofreu inevitavelmente uma
parcial mutação genética. A ilusão de que chegar ao governo do País
fosse sinônimo de conquistar o “poder” foi breve e se chocou
inexoravelmente contra a resistência de estruturas estatais,
instituições e leis forjadas por décadas de autêntico domínio
oligárquico.
Em consequência, a
tentativa de democratizar profundamente a sociedade e resolver seus
graves desequilíbrios por meio do controle do Estado tem se revelado
efêmera: poderia ser um instrumento formidável de mudança, mas o Estado
continua preponderantemente nas mesmas mãos de sempre, e sua reforma com
intenção democratizante, sem uma maioria parlamentar coerente, é de
fato impossível. Por essa razão, resulta fundamental realizar a mãe de
todas as reformas, ou seja, a política, para conseguir a superação do sistema construído com base na Constituicão de 1988.
Hoje é urgente não uma
reforma política indefinida ou de fachada, como enchem a boca os
tartufos de qualquer facção, e sim um novo pacto nacional entre os
integrantes amplamente majoritários da sociedade, cujos interesses
convergem: o povo e os trabalhadores de um lado e, de outro, a burguesia
e a classe média democráticas, ambos interessados em construir um país
mais equilibrado, competente e próspero. Esse novo pacto, através de
compromisso parlamentar e lutas sociais na próxima legislatura, poderia
abrir o caminho para uma Assembleia Constituinte exclusiva, única
possibilidade de realizar uma reforma política que atenda aos interesses
majoritários da Nação.
Politique d’abord!
(Política antes de qualquer coisa!), exclamam os franceses aludindo à
centralidade do pensamento e da ação política. E, no Brasil também, hoje
mais do que nunca, a política alta e nobre é a única resposta de valor.
Um modelo de sociedade e de política se exauriu: agora é preciso pensar
e realizar outro, mais avançado, para evitar o retrocesso das
conquistas sociais da última década.
Por essas razões, entende-se que
alguns analistas se abalem a imaginar a volta de Lula à Presidência.
Sustentam que o povo precisa da orientação e do carisma que só Lula
garante, para determinar o momento de ruptura do qual a democracia
brasileira precisa. Essa força popular, no parlamento e na sociedade,
seria crucial para forjar em paralelo novas alianças e o novo curso que a
Nação necessita.
Sigo o raciocínio: pedidos de
radicalidade emanam da sociedade de modo claro e forte. Só Lula,
voltando às origens, poderia dar respostas a essas demandas para depois
ser capaz de negociar, obrigatoriamente, com os adversários de sempre.