A "Óia" endoidou de vez...
Com a morte de Robert Cívita a revista "Veja" parece haver perdido além de seu diretor e principal orientador, depois do sr. Carlos Cachoeira, todo o senso de realidade. Pelo texto que segue abaixo, pode-se notar que a revistona - em volume, apenas volume - está passando por uma espécie de crise pós-traumática nesta sua edição... Acusar de falha do comunismo os casos de canibalismo entre colonos ingleses no início do povoamento do que hoje são os Estados Unidos é o supra-sumo do delírio...
Eis a matéria assinada no Blog de Juremir Machado da Silva do tradicional "Correio do Povo" de Porto Alegre (RS):
O canibalismo comunista da Veja
Praticamente nenhuma pessoa séria leva a revista
Veja a sério. Sabe-se que é uma publicação humorística. Faz um humor
meio sem graça, apelativo, rasteiro, como é o humor dominante na mídia
brasileira atual. Mas há um traço de original nesse humor: ele é
ideológico. Nesta semana, porém, Veja caprichou no ridículo. O texto “Os
ossos do socialismo” é uma obra-prima de charlatanismo, de
reacionarismo delirante e de besteirol histórico. Segundo o repórter,
que assina a matéria, há uma relação direta entre canibalismo e
comunismo. Em 1609, os primeiros colonos ingleses instalados em
Jamestown, na América, loucos de fome, comeram os seus semelhantes.
Arqueólogos descobriram os ossos de Jane, vítima do canibalismo dos
seus parceiros de aventura no Novo Mundo. A revista Veja não tem a menor
dúvida: “Jane foi devorada por seus pares como consequência do fracasso
do modelo de produção coletiva implantado nos primeiros anos da
colonização dos Estados Unidos. A propriedade era comunitária, e o fruto
do trabalho era dividido igualmente entre todos. Era, portanto, uma
experiência que antecipava os princípios básicos do comunismo. Deu no
que deu”. Uau! A cadeia estabelecida é imperativa: o coletivismo levou à
preguiça, que levou à improdutividade, que levou à fome, que levou ao
canibalismo. A saída viria com a propriedade privada. É reportagem para
prêmio Esso de estupidez. Longe de mim defender o comunismo. O buraco é
mais embaixo.
Vejamos.
Vejamos.
O autor tem a segurança dos tolos encantados com o lugar que ocupam
na escala social: “Se não fosse o sistema fracassado, a situação
dificilmente teria chegado a esse ponto”. Todos os demais aspectos de
adaptação e de conjuntura são desconsiderados. O reducionismo ideológico
surge como uma iluminação. A solução chega com um novo administrador,
que impõe à propriedade privada: “A decisão despertou os traços hoje bem
conhecidos do capitalismo americano: o empreendedorismo e a aptidão
para a competição”. Disso teria decorrido que, em 1775, os americanos
“já eram mais altos que os ingleses”. Tem gente batendo os dentes nos
consultórios de dentista, onde Veja é campeã de leitura, de tanto rir. É
um riso nervoso.
Nem os primatas do Pânico fariam melhor.
Para a pragmática revista Veja, no coletivismo, entre trabalhar e
comer seus semelhantes, as pessoas escolhem a segunda opção. Um colono
comeu a esposa grávida. Veja, enfim, descobriu a origem da expressão
“comunista comedor de criancinha”. Na verdade, encontrou algo mais
grave, o comunista comedor de feto. Sem contar que Duda Teixeira chegou
ao elo perdido, a origem sempre procurada do capitalismo, o estalo: “Foi
essa mudança, nascida do trauma de um inverno em que colonos caíram na
selvageria que permitiu aos Estados Unidos se tornar o maior gerador de
riqueza do planeta e o berço do capitalismo moderno”. O capitalismo nada
mais é que uma reação ao canibalismo comunista. Agora é científico.
Não fosse grosseiro, eu diria: é a coisa mais idiota que li.
Fonte: http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/?p=4274
Fonte: http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/?p=4274